Evelyn Dushkin foi à escolhida do
seu chefe Gerard Stepanov para intermediar as relações comerciais do Grupo
Stepanov que vendia produtos de perfumaria, com negócios na Europa, América do
norte e na Polinésia Francesa. Ela insistiu para eu ir junto e teve o apoio do
meu pai Franz Dushkin. Eu sempre gostei de praia, então, não seria nenhum
sacrifício acompanhá-la, mas quando sugeri que ele fosse conosco, recebi uma
negativa. Por ele ser um médico de pronto atendimento, viagens fora do
planejamento não era permitido, no entanto, desacreditei quando soube que a
herdeira Stepanov iria também. Eu desistir de entender as justificativas da
minha mãe, quem era eu para dizer algo contrário?
Arrumei uma mala com roupas leves,
mas por prevenção coloquei um casaco também.
Se o clima mudasse eu estaria preparado. O meu pai esperava na sala
juntamente com a minha mãe.
Franz era um homem de 45 anos com linhas finas de expressão. O
meu cabelo e olhos escuros vieram da sua
parte. Evelyn possuía os cabelos em um tom de mel. A baixa estatura da minha
mãe não diminuía a sua presença dominante.
— Aproveite cada segundo. Aconselhou Franz.
— Irei.
Depois de uma breve despedida. Nós
seguíamos para o Aeroporto Moscovo Sheremetievo.
— Você vai gostar da ilha. No carro
Evelyn falou.
Eu não duvidava disso.
O aeroporto não estava com um alto
fluxo foi fácil sair do táxi e entrar
pelas portas. Na sala de embarque me surpreendi com a chegada de Anna Stepanov
crescida e não muito diferente da garota
pálida que eu conheci na festa dos funcionários da empresa do seu pai. Ela
continuava recatada e tímida, segurava
uma almofada de viagem numa mão e a alça da sua mala de rodas na outra.
Os assentos foram reservados conosco
na mesma fileira, enquanto a minha
mãe ficou na poltrona da frente. A garota passou metade da viagem
dormindo e no tempo que sobrou só me dirigiu a palavra para perguntar que horas
eram.
Depois de uma breve passagem por
Papeete no Taiti na ilha principal da Polinésia Francesa. Dei-me conta que
tentar acompanhar com lógica a mudança no relógio em comparação há Moscou com
13 horas á frente poderia me confundir, então, simplesmente obedeci à
informação que era hora “X”.
O Aeroporto de “Faa’a” era arrumado,
mas foi o único local de pouso e decolagem
que eu havia visto uma galinha ciscando pela praça de alimentação sem
nenhuma preocupação em ser pega.
— É a primeira vez na minha vida que
eu vejo uma galinha circulando em um aeroporto. Como se lesse a minha mente
Anna comentou.
Nós embarcamos em outro avião para
um voo doméstico de 50 minutos realizado pela Air Tahiti, com destino a Bora
Bora uma das ilhas mais comentadas do arquipélago.
As duas mulheres sentaram lado a
lado numa das poltronas perto da porta, e eu fui sentado perto de uma senhora
grisalha. Através da janela eu via a nossa aproximação em direção aos muitos
tons de azul.
Assim que desembarcamos seguimos até
o saguão do aeroporto onde os “stands” dos
hotéis esperavam por seus hóspedes. Um homem francês nos seus 30 anos
que se apresentou como Antonie foi enviado para fazer o translado de lancha até
o nosso Resort.
O clima tropical parecia abraçar o
lugar com o brilho do sol, eu que era nascido e criado em um país de clima
continental úmido, gostei da mudança.
Apesar do motivo daquela viagem ter
sido o trabalho da minha mãe o que eu sentia era que estar naquele lugar
parecia mais como tirar férias do que qualquer outro motivo.
O dia de sol contribuía para o
cenário irresistível da ilha cercada por uma laguna, o verde dos montes Pahia e
Otemanuo, além do azul do céu e do mar eram de tirar o fôlego.
— Que vista incrível. Ao
meu lado Anna acenou discretamente.
As nossas reservas de acomodações
foram feitas no Intercontinental Bora Bora Resort Thalasso Spa. A minha mãe
ficou fascinada com as construções em estacas sob as águas da laguna, este
modelo de habitação tornou-se comum na maioria dos Resorts locais.
O bangalô que nós ficaríamos possuía
quase 100 metros quadrados divididos entre os quartos, banheiro com jacuzzi,
hall de entrada. Na sala de estar havia uma mesa de vidro com vista direcionada
para o mar embaixo do bangalô.
O quarto de Anna era ao lado do meu e por mais
cordial que fosse eu não conseguia me aproximar. Talvez, pela ausência de
diálogo na véspera ou por um bloqueio pelo fato do pai dela ser o chefe da
minha mãe e eu não queria problemas.
Como tudo naquele lugar havia sido
construído para oferecer um alto padrão estávamos bem hospedados com todas as
regalias que o nome Stepanov poderia oferecer.
Quando a minha mãe propôs que
mergulhássemos para admirar a vida marítima, eu não pensei que o programa seria
realizado a dois. Evelyn explicou a nós que faria uma videoconferência com o
seu chefe, mas queria que ambos se divertissem na ilha. Anna e eu iríamos fazer
um Snorkel na barreira de corais de clima propício, por saber disso, eu saído
meu quarto apenas com a bermuda de banho, já na sala, eu encontrei Anna vestida
com um biquíni azul e um short preto das laterais em V.
Eu só tinha 17 anos e já possuía
mais de 1 metro e 80, consequentemente, para mirar nos olhos dela eu precisava
olhar para baixo. Notei que as suas íris azuis por causa da influência da luz
solar acabaram por mudar a sua tonalidade os deixando extremamente claros.
Ela segurava nas mãos uma bolsa de
praia e dois pares de pés de pato.
Olhei-a interrogativamente.
De semblante sereno ela me
perguntou.
— Você ainda tem dúvidas?
Ela não esperaria alguém para oferecer
o acessório. Levantei as mãos em um gesto de rendição.
Eu gostava de caminhar, entretanto,
a passarela era longa demais para ser encarada em um dia de sol a pino.
Um carrinho de golfe dirigido por um
funcionário se movia rapidamente até nós.
Anna havia pensado em tudo, pálida
como era andar até a praia seria mais difícil para ela do que para mim.
— Você se importa em dirigir?
Eu iria perder aquela oportunidade?
Ela depositou os pés de pato no
banco de trás, se acomodou ao meu lado e seguimos pela passarela até o final da
ponte.
Nos momentos em que Anna pensava que
eu não notava suas olhadas em meu rosto a garota me secava. Sinceramente, eu
não conseguia entendê-la, na primeira oportunidade de conversar comigo ela
ficou quieta e no avião dormiu. Realmente até agora uma incógnita.
Ajudei Anna com os calçados de
borracha até chegarmos ao lugar de mergulho. Foi uma caminhada repleta de belas
imagens que agraciaram os olhos, eu nunca iria me acostumar com aquela vista
incrível.
— Que lugar maravilhoso. Ela disse
deslumbrada.
Olhei para os pés de pato que tinha
o meu número o que me fez pensar como ela sabia?
Anna também havia trazido óculos de
mergulho e até uma câmera subaquática. Fui o primeiro a entrar na maré,
aproveitei para molhar a minha cabeça e curtir a sensação refrescante, ao
emergir vi Anna tirar o short o corpo dela era muito atraente de curvas
desenhadas com um par de pernas alongadas a passos tímidos ela também entrou na
água.
A água transparente era uma beleza à
parte, além de ser sempre morna, também contava com uma variedade de peixes que
era impossível não se surpreender.
Tanto ela como eu estávamos
fascinados, ela registrava impressionantes imagens do ambiente marinho.
Os cliques deixaram de ser a sua
principal atividade quando ela tirou sua máscara de mergulho e nadou para
simplesmente curtir o momento… Anna parecia uma sereia de cabelos loiros.
Quando a sua pele translúcida
começava a se avermelhar decidir convidá-la para comermos algo no quiosque.
Ao observar sua avaliação atenta, eu
esperei.
Anna Stepanov inegavelmente era uma
garota que vivia uma vida de alto padrão proporcionada pelo pai, do luxo a
mimos.
Ela pediu um prato de camarão e um
suco ornamentado, um pedido simples para uma garota rica.
Minimamente eu sorria.
— Do que está rindo? Perguntou séria
de olhos semicerrados.
Levantei uma das mãos em um gesto de
paz.
— Não estou rindo de você.
Eu realmente não estava só achei
engraçado o pedido e não ela.
Notei que não estava ofendida como
queria aparentar, talvez sua intenção fosse demonstrar ultraje, no entanto,
Anna se revelou ser uma péssima atriz.
Diante do seu bom humor, eu resolvi
perguntá-la.
— Então o que você fez para vir
passar o verão com a criadagem?
Anna assimilou a pergunta e de
maneira lenta a vi deixar o crustáceo de lado para me mirar pacientemente.
— Do jeito que você fala parece que sou uma
princesa.
E não era?
Sua aparente personalidade delicada
ia além de um aspecto psíquico e assumia uma conduta comportamental.
No meu mundo ela seria uma espécie
de princesa moderna que não usava coroa.
Deixei passar, não seria bom tocar
em um assunto que traria contendas a nós, afinal, isso não era da minha conta.
A refrigeração artificial do Resort
me fazia esquecer por um tempo do sol, nas dependências de temperatura amena eu
me sentia na Rússia, então ficar no meu quarto assistindo qualquer coisa seria
uma boa opção para mim, no entanto, a minha mãe não deixou, é claro.
Anna e eu iríamos com ela até uma
loja por sorte de Anna o pai minutos antes da nossa saída ligou para conversarem por videochamada, então
restava apenas eu para ir com Evelyn até uma loja de vendas locais, eu me
sentia meio desanimado em ir.
Eu não queria comprar nada, já a
minha mãe…
Entramos numa loja especializada em
roupas e acessórios, o padrão seguia de pintura a mão, a estampas florais.
Minha mãe não deixaria de fazer umas comprinhas, mas, por que me levar com ela?
A atendente receptiva nos recebeu
com demasiada atenção, depois de uma olhada nas ofertas ela explicava à minha
mãe como se usava o conhecido pareô que se tratava de um longo retângulo de
tecido usado no corpo.
Pelo que eu entendia as mulheres o
embrulhavam e amarravam para criar diferentes peças de roupa e os homens usavam o pareô como um envoltório da cintura.
Foi ali em meio a uma explicação
sobre o uso de uma vestimenta típica dos moradores locais que eu a vi pela
primeira vez, a sua imagem me encantou, a beleza atípica de cabelos negros,
lisos e espessos, pele morena tropical, lábios volumosos e tímido sorriso
demonstravam certo acanhamento.
Diante do seu olhar resoluto em um
rosto bonito no auge da sua adolescência. Sentia-me diferente de um jeito bom.
Aproximei-me motivado e caminhei em
sua direção vendo-a afastar os olhos para longe de mim, ao perceber que eu
seguia diretamente até ela um sorriso gentil visitou seu rosto.
— Posso ajudar? Perguntou
educadamente de maneira profissional, o inglês dela era ótimo.
Sorri de lado ao me apoiar no balcão
de pagamento.
— O Clima da ilha é sempre tão…
caloroso assim?
Ela transpareceu confusão pega
aparentemente desprevenida.
— Estamos numa temperatura média. —
Respondeu ao avaliar o meu rosto, quase sorri.
— Então temos um clima praiano em
qualquer época do ano?
As mãos remexiam no ornato circular
de cores em seu pulso.
— Quase isso.
Olhei em direção a minha mãe que
continuava envolvida em suas descobertas tudo o que envolvia cultura
interessava a Evelyn.
De maneira lenta eu me aproximei um
pouquinho mais, me inclinei sobre o balcão para falar perto do seu ouvido.
— Posso lhe pedir um conselho?
As cortinas longas e escuras dos
seus cabelos se moveram, seus cílios tremeram.
— Se eu puder ajudá-lo.
Sem dúvida nenhuma ela poderia.
— Como opção de entretenimento, o
que você me aconselharia nesse lugar paradisíaco?
Outra piscada despretensiosa, ela
pensou rapidamente e me disse.
— Piquenique é agradável.
Era impressão minha ou ela
demonstrou um interesse velado?
Piquenique hein…
Uma boa oportunidade.
— Eu gostaria de ver isso.
Ela sorriu amplamente.
— Quer participar de um piquenique
comigo?
A sua expressão estática não me
convenceu do seu alheamento.
— Seria ótimo.
Gostei da sua resposta, ela não era
clichê naquele típico estado orgulhoso de negação que muitos assumem numa clara
contradição quando, na verdade, só queriam dizer uma afirmação.
Aquela bela garota possuía
personalidade, gostei disso, nosso encontro poderia dar certo, entretanto, eu
não tive tempo de me aprofundar na conversa já que cedo demais a minha mãe me
seguia até o balcão com o pareô escolhido, em todo o processo, eu olhava para a
bonita nativa de sorriso maroto.
Algo nela me atraía para me
aproximar ao ponto de conhecê-la.
Assim que saímos da loja minha mãe
me encarou séria, os olhos castanhos se tornaram severos e de maneira direta me
disse.
— Fique longe daquela garota, Alek
não é sábio procurar problemas aqui.
Então seria sábio procurar problemas
em Moscou?
Meu sorriso de escárnio apareceu.
— Eu não perderia meu tempo com ela.
Falei de maneira impassível.
Minha mãe pareceu se convencer ao
suavizar a expressão.
— Será melhor para todos.
O que um simples encontro com uma
nativa perigosamente linda poderia causar?
Às vezes minha mãe estava à altura
da rainha do drama.
No carrinho de golfe nós passávamos
pela passarela de acesso aos bangalôs, seguir sem pressa apreciando a vista.
Parei o carrinho em frente ao nosso quarto e me deparei com a abertura brusca
da porta.
Minha mãe desceu, cumprimentou Anna
e entrou com um pouco de pressa. Anna estava com um grande chapéu de verão,
além de suas peças de biquíni na cor vermelha, também usava uma saída de banho.
Ela levou a mão direita à lateral da
cabeça para segurar na borda do chapéu.
— Oi! Alek, eu estava indo dar um
mergulho, quer ir comigo?
Olhava-me de maneira ansiosa.
Eu poderia ir com ela, mas realmente
eu não estava a fim.
Cocei a nuca ainda perdido nas
palavras.
— Hã? Falei enquanto pensava. — Eu
tenho algumas coisas para fazer agora, deixa para a próxima.
Ela aceitou bem, então decidi
abordar um tema importante.
Anna gostava de passar muito tempo
ao ar livre, era uma boa opção, o que me preocupava era a sua pele, ela não era
albina, mas chegava perto.
— Anna eu não quero ser um chato,
mas, eu realmente me preocupo com a sua exposição ao sol, não deixe de usar o
seu protetor solar, sim?
Ela automaticamente concordou com a
cabeça.
— Você quer usar o carrinho?
Ofereci.
Anna se aproximou um pouco mais.
— Seria ótimo, obrigada, Aleksandr.
Cedi o meu lugar a ela.
— Espero que se divirta na praia.
— Obrigada. — Agradeceu mais uma
vez.
Afastei-me um pouco para Anna entrar
na cabine do carrinho.
— Bom, eu preciso ir. Apontei para a porta sem jeito.
Como despedida acenei um “tchau” em
sua direção.
Às vezes eu pensava ver alguma emoção escondida nos olhos
azuis de Anna, entretanto, eu sempre deslizava para longe daquela possível
instabilidade emocional em espiral. Nosso início amigável não se tornaria um
momento embaraçoso com trocas de confidências, algo que futuramente eu me
envergonharia de pensar.
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